26.9.08

O regresso da "Premiere"




Depois da extinção há um ano, da revista de cinema "Premiere", uma boa notícia: a publicação está de volta ao mercado. O director continuará a ser José Viera Mendes e a tiragem será de 20 mil exemplares. O primeiro número sai para as bancas já em Outubro.

25.9.08

Festival Y volta a 4 de Outubro

f.r.a.n.z.p.e.t.e.r

«Schubert foi a dualidade personificada. Além da beleza das suas composições, o que mais me surpreendeu ao investigar sobre a sua vida foi esta dualidade. A importância da música na sua vida pareceu-me lógica. É normal que uma pessoa capaz de imaginar uma música tão sublime oriente a sua existência na tarefa de a pôr em papel. O que é mais surpreendente é a importância que tem para Schubert a relação com os seus amigos. O facto de estar na tasca e passar a tarde a conversar em volta de uma jarra de vinho (também devemos dizer que os temas que debatiam estavam relacionados com a arte, uma vez que quase todos eram artistas) é de uma importância capital para ele, até ao ponto em que, num momento em que o grupo se desagrega, Schubert entra num estado de profunda tristeza, quase de depressão.» (Sergi Fäustino)

f.r.a.n.z.p.e.t.e.r - sergi fäustino
Festival Y, 30 de Outubro, Casa da Moagem (Fundão)

Double Bind

Gregory Bateson criou o termo "double bind" (duplo vínculo), definindo-o como a condição de um indivíduo perante mensagens contraditórias ou diferentes. O conceito seria, na verdade, a tentativa de explicação da causa da esquizofrenia através de uma perspectiva não biológica.
Watzlawick costuma dar como exemplo de "double bind" o caso de uma mãe que oferece duas camisas ao filho, no Natal. No dia seguinte, o jovem veste uma delas. A mãe pergunta: "Então, filho? Não gostaste da outra camisa?"
O bem com que me iludem

Cada um é como é. Eu esqueço facilmente o mal que me fazem. Mas nunca perdoo o bem com que me iludem.


É estranho. Esforço-me por encontrar razões para abominar a escrita do Pedro Mexia. Mas a verdade é que acabo por sorrir enquanto folheio as páginas dos livros, quando "passo os olhos" pelas crónicas no jornal e não dispenso, diariamente, pelo menos uma consulta ao blogue.

Pessoalmente, o Mexia é um indivíduo normal, um tanto ou quanto macambúzio, é certo, mas perfeitamente normal. Talvez por isso tenha ficado desencantada.

Porém, não o nego: Há pedaços de estórias que parecem tirados da minha própria história. E, na verdade, talvez seja esse o papel do verdadeiro escritor - talvez deva ser alguém que tenha a capacidade de nos falar como se nos conhecesse por dentro. Porque sabemos que há lugares onde não consentimos que ninguém chegue.


Tutto questo fa schifo

Constance Dowling, a última amada de Pavese, foi amante de Elia Kazan. Na sua autobiografia, o cineasta conta que ele e a fogosa actriz tinham sexo em todo o lado, «como animais na época da caça». Essa passagem é evocada em Quell’antico ragazzo (2006), de Lorenzo Mondo, que também cita a reacção de Constance à morte de Pavese: «I did not know he was a famous writer». A gente lê isto e percebe a última frase de Pavese: «Tutto questo fa schifo».


Apanhar mais na cabeça
A ordem homologada pelos sábios é conhecida: 1) negação 2) raiva 3) tristeza 4) aceitação. Talvez porque acredite pouco nos sábios, tive de imediato o 3 e 4, supostamente os últimos na sucessão dos eventos. Já o 2 avançou em espasmos intermitentes, e só agora ataca com força. Quanto à fase 1, a primeira de todas, nunca aconteceu. Antes de escreverem, os sábios deviam apanhar mais na cabeça.

23.9.08

N.

Costumávamos ficar deitados no teu quarto. Era como se fosses uma extensão do meu corpo. Eu gostava de ficar, assim, imóvel, horas a fio, durante a tarde. Como se o meu corpo fizesse parte do silêncio trágico do fim do dia.

Da primeira vez que nos deitámos e ficámos enroscados no calor dos teus lençóis já gastos, pensei que tinha ganho o mundo. Com um pouco de esforço, poderias vir a tornar-te na "coisa" mais importante da minha vida. Numa daquelas pessoas a quem dizemos

"És a melhor coisa que me aconteceu"

e merdas assim. Só mais tarde soube que o silêncio é a raiz de todas as estórias e talvez esperasses que, a qualquer momento, eu gritasse - fosse o que fosse, desde que fosse bem alto. Depois, devagar, dirias

"És a melhor coisa que me aconteceu".

Mas, deitados na tua cama disseste-me "Tens os olhos rasgados"; "És linda". E afagavas-me o rosto, num gesto de ternura incomensurável. 38 graus na rua e eu esperava pelo dia em que te pudesse dizer

"És a melhor coisa que me aconteceu".

Já se sabe como são as coisas.
No início, tinha uma descarada predileção pela tua biblioteca; apaixonavam-me os teus livros espalhados pelo chão da sala, pela casa inteirinha. Não sei se me apaixonei por ti ou pelos teus livros deixados ao acaso em toda a parte.
Era o tempo em que até a tua gata falava comigo e me sussurrava que ainda haverias de ser meu. A tua gata tem, por ti, uma espécie de piedade.

Sejamos realistas. Não passámos de uma tempestade de verão. Eu passei a dormir mal depois de fazermos amor. Apesar de ficarmos tão cansados que era como se o corpo deixasse de exitir. E eu não gostava de sentir o meu corpo fora de mim.

Depois era o silêncio. Os carros que passavam lá fora. Um ou outro boémio durante a noite. A televisão do vizinho de baixo. Os passos da gata pela casa. O silêncio instalado, ao nosso lado, na cama, com mãos de gigante e abraço gelado.

E o medo a assomar, do lado de lá dos vidros da varanda. Era uma tarde de sábado, eu abri a porta e o nosso amor morreu.
Duas noites, dois filmes

"Clean", de Olivier Assayas (2004) e "Paranoid Park", de Gus Van Sant (2007).

19.9.08

Discos da minha vida - I


A Quiet Riot - 34 Tracks To Save Your Life (2002)


Track Listing
Cd1
1. Shining - Badly Drawn Boy
2. Half A World Away - Oasis
3. Underdog (Save Me) - Turin Brakes
4. Toxic Girl - Kings Of Convenience
5. Past That Suits You Best - Delgados
6. Barcode Bypass - Mull Historical Society
7. It's Just About The Weather - Alfie
8. My Weakness Is None Of Your Business - Embrace
9. Last Good Day Of The Year - Cousteau
10. To You - I Am Kloot
11. End Of The World News (Dose Me Up) - McRae, Tom
12. Sting - Reindeer Section
13. July - Low
14. Setting Sun - Zephyrs
15. Silence Seems To Say - Last Post
16. Only Living Boy In New York - Everything But The Girl
17. Northern Sky - Drake, Nick
CD2
1. Up With People - Lambchop
2. Return To Sender - Mojave 3
3. Working Girls (Sunlight Shines) - Pernice Brothers
4. Don't I Hold You - Wheat
5. Song From Hope St (Brooklyn NY) - Kitt, David
6. My Drug Buddy - Lemonheads
7. Oscar Brown - Dury, Baxter
8. Punchbag - Bees
9. Wisp - Simian
10. Broke - Beta Band
11. Love Detective - Arab Strap
12. Staunton Lick - Lemon Jelly
13. Soul Vibration - J-Walk
14. Your Girl - Blue States
15. Porcelain - Moby
16. Utopia - Goldfrapp
17. Staralfur - Sigur Ros

Badly Drawn Boy no IMAGO deste ano

Dia 10 de Outubro - Desta vez é que é. Badly Drawn Boy está no IMAGO. Numa altura em que goza uma pausa na carreira e depois de quatro álbuns nos últimos oito anos, todos aclamados pela crítica e tendo o último "Born in the UK" visto a luz do dia em 2006, Damon Gough vem especialmente ao Fundão em formato acústico para nos presentear com as suas canções mais que perfeitas. Uma noite memorável para o Festival e certamente para os muitos fãs do músico britânico que vão marcar presença.
A acompanhar Badly Drawn Boy, o seu sócio na Twisted Nerve e figura ímpar do meio musical de Manchester - Andy Votel, que vai trazer dois dos mais importantes novos projectos da editora: VOICE OF THE SEVEN WOODS (UK) e SAMANDTHEPLANTS (UK). O primeiro (Rick Tomlinson, com a sua weird-acid-folk e extraordinária forma de tocar guitarra), viu o seu álbum de estreia integrar as listas dos melhores de 2007 nas mais importantes publicações musicais um pouco por todo o mundo, os segundos, depois de uma série de singles preparam-se para o primeiro LP.
Melhor era impossível.

18.9.08

Um dia, hei-de erguer-me na escuridão.

E construir um enorme agasalho de lágrimas.
Passo pelo mundo sem viver
e a vida passa por mim,

indiferente ao cada vez menor
desejo de sobreviver.


Esqueci-me do sonho e da alegria.

Uma voz na pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.


António Ramos Rosa

17.9.08

O melhores discos do verão (Sound + Vision)



As restantes escolhas dos leitores do blogue dos jornalistas Nuno Galopim e João Lopes até podem ser discutíveis, mas "Modern Guilt" do Beck é, de facto, um óptimo disquinho.

A lista:

Beck “Modern Guilt” – 28%
Shearwater “Rook” – 19%
Lykke Li “Youth Novels” – 17%
Primal Scream “Beautiful Future” – 16%
Late Of The Pier “Fantasy Black Channel” – 10%
Black Kids “Partie Traumatic” – 6%
Conor Oberst “Conor Oberst” – 4%
Wild Beasts “Limbo Panto” – 3%
Carla Bruni “Comme Si de Rien N’Etait” – 2%
10º Daedalus “Love To Maka Music To” – 1%

16.9.08

«Uma coisa viva que caiu

Ela fala do futuro e eu não escondo o meu desinteresse pelo tema. Todo o futuro que tinha esgotou-se, esvaiu-se. Agora as ocupações são rotinas inócuas, entreténs ou descontos de tempo. Zombie razoavelmente competente, faço aquilo que me é pedido, estou quando me chamam, sou pontual, pródigo, prolífico, cumpro prazos e funções, telefono, ironizo, compreendo, pontifico, cumprimento, vou ao cinema, atravesso no verde, mas assim como o poeta escreveu «era depois da morte herberto helder» também agora «é depois da morte pedro mexia», cadáver vem do latim cado, «caído», um cadáver, minha querida, é apenas uma coisa viva que caiu.»

Pedro Mexia, Estado Civil

11.9.08

Ava Inferi - "A portal to the never-ending well of expression and creativity"

Os Ava Inferi são uma banda de doom/gothic metal de Almada, fundada pelo guitarrista e compositor norueguês Rune Eriksen em 2005. Um dos conceitos que levou a formação a reunir-se em torno do projecto prende-se, dizem os próprios, com a vontade de libertar e canalizar as frustrações e misérias da vida - "A portal to the never-ending well of expression and creativity" (biografia do site oficial). Carmen Simões dá a voz ao colectivo, composto ainda por Jaime Ferreira (baixo), João Samora (percusão). O primeiro álbum dos Ava Inferi, "Burdens", foi lançado em Janeiro de 2006. O segundo disco, "The Silhouette", chegou às lojas em Outubro de 2007.




"A dança das ondas"

10.9.08

Pretensa poesia anímica

"Ama-me".
Grito-te.

9.9.08

Hector Zazou

Faleceu, esta manhã, Hector Zazou.

8.9.08







Fascinante. O trabalho de Dave Mckean (aqui).


Stephan Martiniere.

5.9.08

Solidão

Pedi-te, tão somente, que morresses comigo.

Northern Sky