16.2.07

A morte é um insecto gigante

O episódio do enterro do Nate, em "Six Feet Under".
(Pedaços inquietantes das 'Odes Místicas de Rumi' ).
A referência ao dia da morte de Kurt Cobain (cliché agonizante).

A referência ao que a vida faz connosco, sem que nós quiséssemos que a vida fizesse fosse o que fosse com a nossa pele.
Putrefacta.
A nossa pele putrefacta (puta da pele putrefacta), debaixo do solo.
(Na Escola Primária, a Professora Alcina ensinava-nos uma lengalenga pouco apetitosa constituída pelos infindáveis estratos do solo , mas a canção não incluía a impetuosidade da morte.
A lengalenga que não referia o estrato dos ossos:
"Estrato onde se encontram, a sete palmos de terra, todos os ossos de todas pessoas do mundo.Porque todas as pessoas do mundo acabam por morrer - violentamente ou de forma natural. E os ossos de todas as pessoas do mundo acabam debaixo da terra. Esta é, de resto, uma das principais funções do solo: acolher os ossos cansados dos seres humanos que morrem. Segundo sim, segundo não.

Há muitas coisas que não se deixam entender, jamais. Nem na vitrine de um Museu, nem nas estantes da maior Biblioteca do Mundo.
Nem no abismo do nosso próprio coração.

Sob pena de desvalorizar o único sentido preciso da vida: a morte.

(A morte de mãos dadas, na voluptuosidade de um baloiço, no Parque Infantil ao lado de nossa casa, de mãos dadas com o amor. De mãos dadas com um poema de Edgar Allan Poe.)

(A morte sentada da sanita da nossa casa de banho, a ler a "Visão" - na página certeira da crónica do Lobo Antunes - e sorrir-nos e a acenar-nos, com as suas calças de morte entre os joelhos e os azulejos do chão).

(A morte olhar-nos de forma apreensiva, por cima dos seus óculos de morte, quando surge o inevitável debate sobre a economia nacional, ao lanche).

(A morte estilhaçada no pára-brisas do nosso carro, perfeitamente esventrada, perfeitamente espalhada pelo vidro inteirinho, na pressa da auto-estrada que leva ao Céu.)

A morte é um insecto gigante.

7.2.07

Os meus ossos são os ossos de um corpo com ossos lá dentro

Um homem sem braços a descer a calçada.
O barulho seco de um cadáver a rebolar pela encosta florida.

Bom Dia! É Primavera.