2.8.05

Um fragmento de "Lunar", um conto de "Antídoto"

«Não passou muito tempo desde que a manhã nasceu. Passou muito
tempo desde que me deixaste sozinho entre as sombras que se confundiam
com a noite. Noutras noites, olhámos para a lua. Nesta noite, não olhámos
para a lua. Noutras noites, olhámos para a lua e enchemo-nos de desejos.
Nesta noite, não olhámos para a lua e sofremos. Noutras noites, olhámos para a lua e não sabíamos o que era sofrer. Escuridão e esperança. Na lua,
víamos mais do que o reflexo daquilo que queríamos inventar: os nossos
sonhos. Víamos um futuro que era maior do que os nossos sonhos e que nos
envolvia e que nos puxava para dentro de si. Nós sabíamos que nos esperava
algo muito maior do que aquilo com que podíamos sonhar. Estávamos
enganados. Aqui, sobre estas pedras que brilham, sob estas lágrimas no meu
rosto, sei que nos enganámos e sei a lâmina infinita de uma faca.» José Luís Peixoto

1 comentário:

sabine disse...

Deixaste-me com vontade de ler José Luis Peixoto... Embora a tua verdadeira intenção, creio, não tenha sido essa.