17.2.05

Olhares indiscretos, nas janelas, observam os estudantes. Denunciam-lhe os movimentos. Invejosas, as gentes serranas arrastam os corpos para a esquadra. Os Agentes agradecem tanto movimento. Porque um dia não são dias. É preciso agitação e progresso. Como nos policiais. Hoje, as ruas ressacam do Natal. Os contentores de lixo rebentam de tantos micróbios. Restos de marisco, caixotes de brinquedos para os meninos. O vento agita papéis de embrulho pelo ar. Esta noite nevou na serra e cá em baixo sente-se o frio de um degelo anunciado. Não há vozes, não há estudantes para espiar. Expiam-se, então, pecados. Lembram-se os velhos tempos de consoadas em tudo fabris. Nas escadas da Boavista, não há poetas que possam alegrar-se com as luzes da paisagem, de Santo António à entrada do Fundão, junto à linha do horizonte. Sozinhos, no chão, restam as pontas dos cigarros que algum estudante enfastiado ali fumou.

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