17.2.05

As gentes desta terra afogam-se em fotografias de vestidos de chita e em álcool. As noites são passadas nas agonias das esplanadas, enquanto os artistas jazem quase moribundos nas ruas da cidade. Pedem esmola. Pedem voz. A Cultura é o nome que se respeita, mas que se afoga, porque antigamente havia o Café Montalto e as tertúlias dos poetas e dos políticos. Hoje sobrevivem pequenos gestos furtivos, como o toque pessoal que se dá às mãos quando se fuma. Há tanta gente louca a vadiar pelas ruas! Trazem o olhar sujo dos fumos das grandes fábricas. Trazem o passado enterrado nos bolsos vazios. Trazem a cor do dinheiro fundida nas mãos. Ficaram, para que lhes possamos fazer uma vénia, as cicatrizes nas mãos, obra dos teares, o desejo cego de parecer e um bago de arroz sobre a mesa do jantar.

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