13.8.18


O LUME

Há fogo urgente, rasga
Trazes cheiro de urze queimada e ossos de pássaros no bolso
vingança do diabo
ainda ontem corrias, feita água, feita fera, feita cera,
feita espera
e agora há só vagar
Agarra-me a mão agora, ai caio, terra mar
por entre escombros, peste negra, tombar
Eu que me vou ainda hoje, o corpo cortado em três
Três pernas, três braços. Três três três
E ainda há pouco se ouviam as sirenes
Vindas das pedras velhas das sepulturas dos cemitérios

Tu cuidas que a serra ainda é terra
e que a terra é pão de uma qualquer semeador
Mas o fogo lavrou em tudo
E só já há noite, há esfera e escuridão
mas também há os teus vestido de menina
feita água, feita fera, feita cera, feita espera
feita enfeita coração 

O que será das fontes, dos gatos e dos velhos?, perguntaste hoje de manhã
E eu, ciente de que morreram as nascentes e murcharam as sombras do verão, achei-me sem razão
porque, aliás,

Da estrada sobrou um mapa triste
E tu, que não tinhas data para chegar, nunca mais hás-de vir
se a Serra ficou este lugar, agora preto por igual

Não há cartas civis ou militares
Capazes de guiar sonhos por entre cadáveres descalços
Por isso, não venhas. O lume chegou.

Sem comentários: