O
LUME
Há
fogo urgente, rasga
Trazes cheiro de urze queimada e ossos
de pássaros no bolso
vingança
do diabo
ainda
ontem corrias, feita água, feita fera, feita cera,
feita
espera
e agora há só vagar
Agarra-me a mão agora, ai caio, terra
mar
por entre escombros, peste negra, tombar
Eu que me vou ainda hoje, o corpo
cortado em três
Três pernas, três braços. Três três três
E ainda há pouco se ouviam as sirenes
Vindas das pedras velhas das sepulturas
dos cemitérios
Tu
cuidas que a serra ainda é terra
e que a terra é pão de uma qualquer
semeador
Mas o fogo lavrou em tudo
E só já há noite, há esfera e escuridão
mas também há os teus vestido de menina
feita água, feita fera, feita cera, feita
espera
feita
enfeita coração
O
que será das fontes, dos gatos e dos velhos?, perguntaste hoje de manhã
E eu, ciente de que morreram as nascentes
e murcharam as sombras do verão, achei-me sem razão
porque,
aliás,
Da estrada sobrou um mapa triste
E tu, que não tinhas data para chegar, nunca
mais hás-de vir
se a Serra ficou este lugar, agora preto
por igual
Não
há cartas civis ou militares
Capazes
de guiar sonhos por entre cadáveres descalços
Por
isso, não venhas. O lume chegou.
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