21.6.05

Para quando a canonização?

A reportagem que a TVI exibiu há algumas semanas atrás, intitulada "O Pastorinho", (atente-se na alusão a Fátima) é o exemplo mais curto, claro e conciso (!) da profunda hipocrisia dos média relativamente à cultura medíocre que vivemos em Portugal. Esta noite, o referido canal televisivo voltou à carga, polvilhando os lares portugueses com mais uma dose, em tudo cáustica e difícil de digerir, da já familiar pseudo- generosidade que prolifera por aí (atente-se na expressão de desprezo). Desta vez, tratou-se de um espectáculo degradante e ofensivo do princípio ao fim, onde ficou bem clara, em todos os momentos, a falta de horizontes de um país sem perspectivas de futuro, onde as aspirações pessoais surgem, não com pouca frequência, reduzidas a uma caixa de roupa de marca (pois claro!) e um passeio à beira mar, patrocinado por uma outra marca qualquer.
O Pastorinho que, bucolicamente guardava o gado num lugar distante de Trás-os-Montes, é hoje e por breves minutos, elevado à categoria de herói nacional, como se todos nós nos orgulhássemos de um Portugal desertificado, ridículo e onde a cultura é uma miragem há muito esquecida.
E como os Pastorinhos são, afinal, três, não custa nada candidatar-me à próxima série desta saga que promete comover até os corações dos mais insensíveis. Estão, assim, e a partir deste momento, abertas as vagas para a selecção do terceiro elemento (pastoral!) da grande obra de caridade levada a cabo por um dos mais responsáveis e preocupados órgãos de comunicação social do nosso país. Isto sim, é o verdadeiro Serviço Público, meus senhores(!).

2 comentários:

sabine disse...

Existe muito saudosismo neste género de reportagens. Dá vontade de perguntar: "Salazar ainda anda por aí?".
Também existe um aproveitamento da miséria alheia para se (auto-)promover uma estação de televisão.
É Portugal no seu pior...
Portugal divorciou-se do campo à muito. Mas como contraponto à realidade, existem estes género de histórias vindas do "Portugal profundo"... do rural que ainda sobrevive.

Joaquim disse...

Podes ser a próxima, de facto. Até vives num sobral pra lá do sol posto!... Mas tens MESMO de te disfarçar de pastora. Ou como diz o ditado, quem quer ser pastor, que lhe vista a pele. Ou era lobo?