Soubesses tu que as horas passam morosas e pesadas deste lado da cidade!
(A última teia do diabo)
No meu corpo, trejeitos e pedaços gigantes do teu corpo. O teu coração enforcado no meu. Soubesse eu que o teu beijo era o meu beijo e as tuas mãos o começo de um universo sem fim!
Doce respirar das tuas entranhas, embrenhadas na palidez dos dias: esta é uma estória sem princípio nem fim. Não há formúlas geométricas, equações de terceiro grau ou silogismos complicados. É a história de duas peles a dançar em uníssono, escondidas no silêncio estereofónico de uma noite qualquer.
A tua lua, a minha lua.
A doce melodia de um fio de água a verter para o infinito. A tua voz encostada ao meu ouvido. Encostada ao meu pescoço. Absorta no cântico ritmado do meu coração. A tua voz misturada com o coro das estrelas. A tua voz escrita na história em versos e cantos da minha inquietude. A tua voz no vazio da solidão. A tua voz desenhada nas paredes do meu quarto, esquartejada três quarteirões depois do ecoponto, estilhaçada debaixo das rodas de um carro na curva apertada que o mundo faz antes da linha do horizonte. A tua voz dentro de um copo, misturada com qualquer coisa alcoólica que nos salva a vida, ainda que por breves instantes. A tua voz dentro de mim, dispersa em mim, entornada em mim, embrulhada em mim.
Não há metafísica alguma na vida. Somos prisioneiros irremediáveis da sina austera do nosso próprio coração.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário