Podias ser diferente. Podias estar em casa. Podias ter arrancado dois ou três versos de irritação para fora do tempo e do espaço. Podias ter confrontado as linhas com o desespero de não ter para onde ir, não ter o que fazer. Podias aprender a cantar. Podias guardar as defesas num outro espaço, desprovido de qualquer sensibilidade. Podias calar a raiva, tantas vezes e matar, só por matar. Sem arrependimentos, sem escutas prévias, sem passos enfurecidos no meio da madrugada. Que culpa tenho de não saber voar? Podias ser diferente. Hoje apetece-me matar alguém de desprezo e enroscar-me, mais tarde, no teu colo, para que me lambas as feridas e deixem de existir segredos. Tantas mulheres à tua volta assusta-me. Mas não to digo, para que não conheças a arma com que um dia me dás-de matar. Podias ser diferente. Menos descuidada, mais certa do turbilhão em que as veias, há muito, se afogaram.
12.7.04
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